A Natureza e o Propósito da Arqueologia Bíblica.
Por Sérgio Silva
28 de Fevereiro 2014
A palavra arqueologia vem de duas palavras gregas, archaios
e logos, que significam literalmente “um estudo das coisas antigas”. No
entanto, o termo se aplica, hoje, ao estudo de materiais escavados pertencentes
a eras anteriores. A arqueologia bíblica pode ser definida como um exame de
artefatos antigos outrora perdidos e hoje recuperados e que se relacionam ao
estudo das Escrituras e à caracterização da vida nos tempos bíblicos.
A arqueologia é basicamente uma ciência. O conhecimento
neste campo se obtém pela observação e estudo sistemáticos, e os fatos
descobertos são avaliados e classificados num conjunto organizado de
informações. A arqueologia é também uma ciência composta, pois busca auxílio em
muitas outras ciências, tais como a química, a antropologia e a zoologia.
Naturalmente, alguns objetos de investigação arqueológica
(tais como obeliscos, tempos egípcios e o Partenon em Atenas) jamais foram
“perdidos”, mas talvez algum conhecimento de sua forma e/ou propósito
originais, bem como o significado de inscrições neles encontradas, tenha se
perdido.
Funções da Arqueologia Bíblica
A arqueologia auxilia-nos a compreender a Bíblia. Ela revela
como era a vida nos tempos bíblicos, o que passagens obscuras da Bíblia
realmente significam, e como as narrativas históricas e os contextos bíblicos
devem ser entendidos.
A Arqueoloia também ajuda a confirmar a exatidão de textos
bíblicos e o conteúdo das Escrituras. Ela tem mostrado a falsidade de algumas
teorias de interpretação da Bíblia. Tem auxiliado a estabelecer a exatidão dos
originais gregos e hebraicos e a demonstrar que o texto bíblico foi transmitido
com um alto grau de exatidão. Tem confirmado também a exatidão de muitas
passagens das Escrituras, como, por exemplo, afirmações sobre numerosos reis e
toda a narrativa dos patriarcas.
Não se deve ser dogmático, todavia, em declarações sobre as
confirmações da arqueologia, pois ela também cria vários problemas para o
estudante da Bíblia. Por exemplo: relatos recuperados na Babilônia e na Suméria
descrevendo a criação e o dilúvio de modo notavelmente semelhante ao relato
bíblico deixaram perplexos os eruditos bíblicos. Há ainda o problema de
interpretar o relacionamento entre os textos recuperados em Ras Shamra (uma
localidade na Síria) e o Código Mosaico. Pode-se, todavia, confiantemente crer
que respostas a tais problemas virão com o tempo. Até o presente não houve um
caso sequer em que a arqueologia tenha demonstrado definitiva e conclusivamente
que a Bíblia estivesse errada!
Por Que Antigas Cidades e Civilizações Desapareceram
Sabemos que muitas civilizações e cidades antigas
desapareceram como resultado do julgamento de Deus. A Bíblia está repleta de
tais indicações. Algumas explicações naturais, todavia, também devem ser
brevemente observadas.
As cidades eram geralmente construídas em lugares de fácil
defesa, onde houvesse boa quantidade de água e próximo a rotas comerciais
importantes. Tais lugares eram extremamente raros no Oriente Médio antigo.
Assim, se alguma catástrofe produzisse a destruição de uma cidade, a tendência
era reconstruir na mesma localidade. Uma cidade podia ser amplamente destruída
por um terremoto ou por uma invasão. Fome ou pestes podiam despovoar
completamente uma cidade ou território. Nesta última circunstância, os
habitantes poderiam concluir que os deuses haviam lançado sobre o local uma maldição,
ficando assim temerosos de voltar. Os locais de cidades abandonadas reduziam-se
rapidamente a ruínas. E quando os antigos habitantes voltavam, ou novos
moradores chegavam à região, o hábito normal era simplesmente aplainar as
ruínas e construir uma nova cidade. Formava-se, assim, pequenos morros ou
taludes, chamados de tell, com muitas camadas superpostas de habitação. Às
vezes, o suprimento de água se esgotava, rios mudavam de curso, vias comerciais
eram redirecionadas ou os ventos da política sopravam noutra direção - o que
resultava no permanente abandono de um local.
A Escavação de um Sítio Arqueológico
O arqueólogo bíblico pode ser dedicar à escavação de um
sítio arqueológico por várias razões. Se o talude que ele for estudar
reconhecidamente cobrir uma localidade bíblica, ele provavelmente procurará
descobrir as camadas de ocupações relevantes à narrativa bíblica. Ele pode
estar procurando uma cidade que se sabe ter existido mas ainda não foi
positivamente identificada. Talvez procure resolver dúvidas relacionadas à
proposta identificação de um sítio arqueológico. Possivelmente estará
procurando informações concernentes a personagens ou fatos da história bíblica
que ajudarão a esclarecer a narrativa bíblica.
Uma vez que o escavador tenha escolhido o local de sua
busca, e tenha feito os acordos necessários (incluindo permissões
governamentais, financiamento, equipamento e pessoal), ele estará pronto para
começar a operação. Uma exploração cuidadosa da superfície é normalmente
realizada em primeiro lugar, visando saber o que for possível através de
pedaços de cerâmica ou outros artefatos nela encontrados, verificar se certa
configuração de solo denota a presença dos resto de alguma edificação, ou
descobrir algo da história daquele local. Faz-se, sem seguida, uma mapa do
contorno do talude e escolhe-se o setor (ou setores) a ser (em) escavado (s)
durante uma sessão de escavações. Esses setores são geralmente divididos em
subsetores de um metro quadrado para facilitar a rotulação das descobertas.
A Arqueologia e o Texto da Bíblia
Embora a maioria das pessoas pense em grandes monumentos e
peças de museu e em grandes feitos de reis antigos quando se faz menção da
arqueologia bíblica, cresce o conhecimento de que inscrições e manuscritos
também têm uma importante contribuição ao estudo da Bíblia. Embora no passado a
maior parte do trabalho arqueológico estivesse voltada para a história bíblica,
hoje ela se volta crescentemente para o texto da Bíblia.
O estudo intensivo de mais de 3.000 manuscritos do N.T. grego,
datados do segundo século da era cristão em diante, tem demonstrado que o N.T.
foi notavelmente bem preservado em sua transmissão desde o terceiro século até
agora. Nem uma doutrina foi pervertida. Westcott e Hort concluíram que apenas
uma palavra em cada mil do N.T. em grego possui uma dúvida quanto à sua
genuinidade.
Uma coisa é provar que o texto do N.T. foi notavelmente
preservado a partir do segundo e terceiro séculos; coisa bem diferente é
demonstrar que os evangelhos, por exemplo, não evoluíram até sua forma presente
ao longo dos primeiros séculos da era cristã, ou que Cristo não foi
gradativamente divinizado pela lenda cristã. Na virada do século XX uma nova
ciência surgiu e ajudou a provar que nem os Evangelhos e nem a visão cristã de
Cristo sofreram evoluções até chegarem à sua forma atual. B. P. Grenfell e A.
S. Hunt realizaram escavações no distrito de Fayun, no Egito (1896-1906), e
descobriram grandes quantidades de papiros, dando início à ciência da
papirologia.
Os papiros, escritos numa espécie de papel grosseiro feito
com as fibras de juncos do Egito, incluíam uma grande variedade de tópicos
apresentados em várias línguas. O número de fragmentos de manuscritos que
contêm porções do N.T. chega hoje a 77 papiros. Esses fragmentos ajudam a confirmar
o texto feral encontrado nos manuscritos maiores, feitos de pergaminho, datados
do quarto século em diante, ajudando assim a forma uma ponte mais confiável
entre os manuscritos mais recentes e os originais.
O impacto da papirologia sobre os estudos bíblicos foi
fenomenal. Muitos desses papiros datam dos primeiros três séculos da era
cristã. Assim, é possível estabelecer o desenvolvimento da gramática nesse
período, e, com base no argumento da gramática histórica, datar a composição
dos livros do N.T. no primeiro século da era cristã. Na verdade, um fragmento
do Evangelho de João encontrado no Egito pode ser paleograficamente datado de
aproximadamente 125 AD! Descontado um certo tempo para o livro entrar em
circulação, deve-se atribuir ao quarto Evangelho uma data próxima do fim do
primeiro século - é exatamente isso que a tradição cristã conservadora tem
atribuído a ele. Ninguém duvida que os outros três Evangelhos são um pouco
anteriores ao de João. Se os livros do N.T. foram produzidos durante o primeiro
século, foram escrito bem próximo dos eventos que registram e não houve tempo
de ocorrer qualquer desenvolvimento evolutivo.
Todavia, a contribuição dessa massa de papiros de todo tipo
não pára aí. Eles demonstram que o grego do N.T. não era um tipo de linguagem
inventada pelos seus autores, como se pensava antes. Ao contrário, era, de modo
geral, a língua do povo dos primeiros séculos da era cristã. Menos de 50
palavras em todo o N.T. foram cunhadas pelo apóstolos. Além disso, os papiros
demonstraram que a gramática do N.T. grego era de boa qualidade, se julgada
pelos padrões gramaticais do primeiro século, não pelos do período clássico da
língua grega. Além do mais, os papiros gregos não-bíblicos ajudaram a
esclarecer o significado de palavras bíblicas cujas compreensão ainda era
duvidosa, e lançaram nova luz sobre outras que já eram bem entendidas.
Até recentemente, o manuscrito hebraico do A.T. de tamanho
considerável mais antigo era datado aproximadamente do ano 900 da era cristã, e
o A.T. completo era cerca de um século mais recente. Então, no outono de 1948,
os mundos religioso e acadêmico foram sacudidos com o anúncio de que um antigo
manuscrito de Isaías fora encontrado numa caverna próxima à extremidade
noroeste do mar Morto. Desde então um total de 11 cavernas da região têm cedido
ao mundo os seus tesouros de rolos e fragmentos. Dezenas de milhares de
fragmentos de couro e alguns de papiro forma ali recuperado. Embora a maior
parte do material seja extrabíblico, cerva de cem manuscritos (em sua maioria
parciais) contêm porções das Escrituras. Até aqui, todos os livros do A.T.,
exceto Éster, estão representados nas descobertas. Como se poderia esperar,
fragmentos dos livros mais freqüentemente citados no N.T. também são mais
comuns em Qumran (o local das descobertas). Esses livros são Deuteronômio,
Isaías e Salmos. Os rolos de livros bíblicos que ficaram melhor preservados e
têm maior extensão são dois de Isaías, um de Salmos e um de Levítico.
O significado dos Manuscritos do Mar Morto é tremendo. Eles
fizeram recuar em mais de mil anos a história do texto do A.T. (depois de muito
debate, a data dos manuscritos de Qumran foi estabelecida como os primeiros
séculos AC e AD). Eles oferecem abundante material crítico para pesquisa no
A.T., comparável ao de que já dispunham há muito tempo os estudiosos do N.T.
Além disso, os Manuscritos do Mar Morto oferecem um referencial mais adequado
para o N.T., demonstrando, por exemplo, que o Evangelho de João foi escrito
dentro de um contexto essencialmente judaico, e não grego, como era
freqüentemente postulado pelos estudiosos. E ainda, ajudaram a confirma a exatidão
do texto do A.T. A Septuaginta, comprovaram os Manuscritos do Mar Morto, é bem
mais exata do que comumente se pensa. Por fim, os rolos de Qumran nos
ofereceram novo material para auxiliar na determinação do sentido de certas
palavras hebraicas.
Fonte: “ A Bíblia Anotada”