As colocações abaixo foram elaboradas em resposta às perguntas de um
professor ímpio sobre uma suposta origem bíblica de uma possível repressão ao
prazer sexual entre os judeus.
Análise bíblica da "repressão ao prazer sexual"
1) Sexo-prazer - mal visto.
Tal suposição não encontra
fundamento na bíblia. Nela não se vê
nenhuma palavra contra o prazer sexual. Somente se determina que a cópula seja
restrita aos cônjuges. Deus criou o
seres humanos: macho e fêmea (Gênesis 1.27). Essa distinção já pressupõe a
prática sexual. Além disso, Deus ordenou que suas criaturas crescessem e
multiplicassem (Gênesis 1.28).
Entendemos que o sexo existe para a reprodução. Entretanto, tal
compreensão e afirmativa não representam a negação ao prazer. Se não houvesse o desejo e a satisfação
encontrada no ato sexual, a perpetuação da espécie humana teria corrido sérios
riscos no início da história humana. A reprodução ficaria dependendo de uma
consciência de obrigação por parte das pessoas, e o ser humano poderia se extinguir
por uma simples questão de esquecimento ou falta de tempo. Para que assim não
ocorresse, Deus fez com que o sexo fosse prazeroso. Podemos pensar da mesma forma em relação ao
ato da alimentação. Se formos analisar,
concluiremos que temos a "obrigação" de ingerir alimentos e beber
água freqüentemente. Entretanto, normalmente não pensamos no comer e beber como
uma obrigação, mas, quase sempre como um prazer. Para a nossa própria segurança
e também para o nosso próprio bem estar, Deus fez com que a alimentação fosse
um motivo de prazer para nós.
Alguém pode dizer que o prazer é
legítimo, mas que o ato sexual deve ter sempre o objetivo da reprodução. Como
dissemos, o ato sexual existe para a reprodução, mas a bíblia nos dá a entender
que o mesmo é legítimo e honrado, mesmo que a reprodução não ocorra ou não
esteja sendo buscada. Vejamos o que diz o apóstolo Paulo na primeira carta aos
coríntios, capítulo 7, versos 4 e 5: "A mulher não tem poder sobre o seu
próprio corpo, mas tem-no o marido; e também
da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas
tem-no a mulher. Não vos defraudeis um ao outro, senão por consentimento mútuo
por algum tempo, para vos aplicardes à oração; e depois ajuntai-vos outra vez,
para que Satanás vos não tente pela vossa incontinência." Paulo está dizendo que a prática sexual seria
constante na vida do casal e que a abstinência só poderia acontecer por
consentimento mútuo e por pouco tempo.
Paulo estaria ensinando os casais a terem filhos ininterruptamente? Creio
que não. O que está em pauta é a necessidade do prazer sexual e sua
legitimidade dentro dos limites do matrimônio.
No Velho Testamento, no livro de
Cantares de Salomão, encontram-se várias alusões aos atributos físicos dos
cônjuges e ao seu relacionamento amoroso. Suas palavras parecem se relacionar
bem com a questão do prazer e não com a sua negação.
2) Esterilidade - maldição.
A idéia da esterilidade como
maldição é encontrada nos relatos bíblicos. Quando Deus se revelou a Abraão, o
patriarca de Israel, fez-lhe a promessa de uma descendência numerosa, a qual,
assim como as estrelas do céu e os grãos de areia da praia, não poderia ser
contada. (Gênesis 15.5). Assim, todo
israelita se considerava abençoado quando podia ter filhos. Estava, desse modo,
sendo alcançado pela bênção de Deus prometida a Abraão. A esterilidade era
então vista como maldição, por ser contrária à benção. Os homens valorizavam muito o fato de
deixarem herdeiros. Por isso, as mulheres estéreis eram, em muitos casos,
desprezadas. Seus maridos logo se uniam a outra mulher para com ela ter filhos.
Evidentemente, quando o homem amava uma mulher, ele não a rejeitava por causa
da esterilidade, mas, de qualquer forma, ela se sentia a pior das criaturas.
(Gênesis 16.1-6 Gênesis 30.1-26 I Samuel 1.1-20 II Samuel 6.16-23 Salmo 127.3-5).
Pela bíblia, entendemos que Deus
escolheu a nação de Israel para que, através dela, Cristo viesse ao mundo. Para
que isso acontecesse, esse povo precisava se multiplicar. A esterilidade surgia
então como um estorvo ao propósito divino.
Apesar de tudo isso, a bíblia
nos mostra o amor divino pelas mulheres estéreis. Ainda que os homens as
rejeitassem, Deus não as rejeitava. Nos textos mencionados vemos, inclusive,
casos em que Deus ouviu a súplica de mulheres estéreis e lhes curou a
esterilidade. (Salmo 113.9).
No Novo Testamento, temos uma
referência atípica sobre as mulheres estéreis. Jesus fala de um tempo de
angústia tão grande, que as mulheres estéreis estariam felizes por não terem
filhos para o sofrimento (Lucas 23.28-30; Mateus 24.19).
3) Adultério (feminino) - punição com apedrejamento
público.
Não existe adultério feminimo. O adultério é um ato
que envolve um homem e uma mulher. (A não
ser que se trate de uma mistura de adultério com lesbianismo). A lei de
Moisés determinava pena de morte para os adúlteros, homem e mulher. (Êxodo
20.14; Levíticos 18.20; Levítico 20.10;
Deuteronômio 22.22). No evangelho de João temos o relato a respeito de uma
mulher adúltera, que foi trazida
pelos fariseus perante Jesus, para que ele
dissesse se deveriam apedrejá-la ou não.
Vemos nesse episódio uma tentativa de se cumprir parcialmente a lei.
Onde estava o homem que adulterara com aquela mulher? O texto nos diz que houve
flagrante. Logo, não trouxeram o homem porque não quiseram.
A proibição do adultério nada tem a ver com repressão
ao prazer sexual. A bíblia ensina o
valor da família. Se não houvesse nenhuma restrição ao adultério e à
prostituição, então a família cairia em extinção. As conseqüências poderiam
ser: filhos sem um lar, sem uma
estrutura familiar tão necessária à formação da personalidade. Os idosos
desamparados ou isolados, já que suas vidas foram totalmente fragmentadas por
aventuras sexuais sem regras e sem compromissos. Por essa causa, seria difícil
a existência de laços e responsabilidades.
E não é o que temos visto muitas vezes? Tudo isso tem acontecido em
escala cada vez maior devido ao desprezo pelos princípios bíblicos. (Provérbios 2.16; Provérbios 5.8; Jeremias
23.10; O Novo Testamento não nos manda apedrejar os adúlteros, mas continua
ensinando que o adultério é pecado, é um atentado contra a família e contra a
sociedade. (Mateus 5.27-28; Mateus 12.39; Romanos 7.1-3; I Coríntios 6.9; Hebreus 13.4; Tiago 4.4). A
palavra de Deus aos adúlteros é que se arrependam, se convertam aos ensinos de
Cristo e sejam fiéis aos seus conjuges. Tudo está resumido no que Jesus disse
àquela mulher adúltera: "Mulher, onde estão aqueles teus acusadores?
Ninguém te condenou? (E ela disse: ninguém, Senhor). Nem eu também te condeno;
vai-te, e não peques mais." (João 8.10-11).
4) Menstruação - impureza que necessitava de rituais
de purificação.
O texto de Levítico 15, menciona o fluxo feminino
(menstruação) e o fluxo masculino (polução) como imundícies. Tal afirmação nada tem a ver com repressão ao
prazer sexual. Esses ensinamentos
estavam entre outros tantos que determinavam atos de higiene para o povo de
Israel. Podemos dizer que eram desnecessários?
De modo nenhum, principalmente naquele tempo, aproximadamente 1.200
a.C., quando não havia água canalizada, nem absorventes, nem hospitais, nem os
remédios e tratamentos de saúde da atualidade. Por isso, Deus ditou várias
regras rígidas de higiene, afim de que não houvessem epidemias no meio do
povo.
5) Novo Testamento: não faz referências claras à
sexualidade. Apenas mostra a tolerância com a mulher adúltera.
Existem poucos textos relacionados à sexualidade no
Novo Testamento. Entretanto, isso não pode ser usado para dizer que a bíblia
condena o prazer sexual. O Novo
Testamento não fala muito sobre sexo, simplesmente porque este não é o seu
tema. O Novo Testamento tem como
objetivo instruir as pessoas com vistas à salvação de suas almas. Se formos
analisar profundamente, a salvação estará relacionada a todas as áreas da vida
humana. Então, os escritores neo-testamentários acabam tocando em questões
sexuais, principalmente para alertar contra a prostituição, o adultério e o
homossexualismo, e não para condenar o prazer sexual em si. Quanto à tolerância com a mulher adúltera,
podemos dizer: Deus demonstra tolerância com todas as pessoas, mas isso não
significa que ele aprova o pecado. Deus ama o pecador (João 3.16), mas abomina
o pecado. O que ele deseja é que todos se arrependam e se convertam. Nosso
tempo de vida é nosso tempo de oportunidade. Os que não se arrependerem serão
condenados por Deus. (Romanos 1.18-32; I
Coríntios 5.1-5; I Coríntios 6.15-20; Gálatas 5.19-21; Efésios 5.5; Efésios
6.28-31; Colossenses 3.5; I Tessalonicenses
4.3-7; I Timóteo 4.12; Apocalipse 2.20-22).
Pr. Anísio Renato de Andrade
Bacharel em teologia
10/10/2014Sérgio Silva
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